segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Crónica da corrida de toiros de Albufeira - por António Peças

No passado dia 17 de agosto, o Aposento da Moita deslocou-se a Albufeira, para aí enfrentar toiros da ganadaria Condessa de Sobral e partilhando praça com os Amadores de Cascais.

A (fantástica e animada) crónica que se segue é da autoria de António Peças, forcado já retirado.

"O Cabo José Maria Bettencourt deu-me a honra de tentar escrever o sucedido na corrida do pretérito dia 17 de Agosto na monumental de Albufeira.

Tentarei, com o mesmo esforço que coloquei em prática enquanto forcado, fazer aproximar este escrito daquilo que os entendidos apelidam de crónica.

Praça não muito composta, ainda assim com a quase totalidade do público a marcar presença pelo atractivo que representa ver em acção o Aposento da Moita!

Como recompensa pela oferenda de uma dúzia de garrafas de água de litro e meio (à imagem do heróico casal da auto-estrada) de marca branca e de três maços de tabaco contrabandeado recebi um autocolante que me concedeu o privilégio de privar junto dos artistas.

Presenciei um grupo comandado de forma exemplar, ao melhor estilo da rapaziada bem educada, quieta, a respirar superficialmente, pedindo autorização para esboçar um sorriso, em estado de disponibilidade permanente para obedecer a quem de direito. Gostei do registo, do qual, confesso, já tinha saudades! Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Curro da Senhora Condessa de Sobral, com os touros a variarem entre os 435 e os 530 Kg, razoavelmente apresentados.

Para a cara do 1º, de 470 Kg, foi escolhido o forcado João de Deus Coelho. Terá sido o toiro mais reservado da corrida, aparentando exigir que o forcado fosse pisar os seus terrenos. Foi dessa forma que o João se comportou, aproximando-se tranquilamente do seu oponente, que se arrancou quando o forcado entendeu. No momento da reunião o touro fez um estranho e desfeiteou o forcado. Na segunda tentativa o João começou a recuar no momento oportuno, tinha o animal com ele mas parou-se numa reunião imperfeita e, num movimento artístico, fez um pino com mortal à retaguarda e queda desamparada sobre o ombro direito, sendo obrigado a recolher à enfermaria, embora vociferando com o Médico assistente de que seria capaz de pegar o touro apenas com um braço. Foi-lhe aplicada como medida de coacção uma ligadura imobilizadora e pena suspensa até à próxima temporada, cumprindo repouso e um árduo plano de fisioterapia. Vai, garantidamente, ser o melhor anfitrião da feira da Moita!

Para a dobra foi o jovem Miguel de Almeida Fernandes, que prometeu vingar o colega e amigo. Apenas tive oportunidade de ver a pega numa posição semelhante à dos terceiros ajudas mas fiquei desde logo impressionado pelos generosos glúteos do valente forcado. Aqueles 40 Kg de lastro não lhe retiram leveza no avanço e garantem viagens mais curtas, menos entusiásticas e umas fortes cervicalgias aos oponentes! Tranquilo e toureiro na forma como avançou na arena, consumou à primeira tentativa apesar de o touro ter fugido ao grupo, que fechou junto às tábuas, perante o júbilo do público.

Martim Afonso foi o forcado escolhido para pegar o terceiro da ordem. Pesava 450 Kg mas tinha uma cara imponente, sempre com ar altivo, com a cabeça permanentemente lá em cima. Essas características faziam-no parecer maior. Contrariado mas obediente brindou a sua pega a este vosso escriba. Um diálogo surreal, indigno de aqui ser reproduzido, que me fez lembrar os bons momentos que o grupo me proporcionou durante a minha passagem. Receptivos às minhas sugestões aquando do referido brinde, certo é que o Martim esteve impecável, o Manuel Mendes deixou-me cheio de inveja de dar uma primeira ajuda daquelas e o restante grupo completou, coeso, na perfeição, a imobilização da fera. Só fiquei furioso porque tinha avisado os fotógrafos para me tirarem uma fotografia e o Martim não me cumprimentou quando saltou para dentro da praça, de tal forma desenfreado se dirigiu à Sónia Matias! Justifica-se a “troca”, convenhamos...!!

Para pegar o 5º toiro foi chamado o João Ventura. Pesava 440 Kg (o touro...) mas cresceu depois de pregar com o cavaleiro Nélson Lamas no chão! O praticante, bastante combalido, recolheu à enfermaria e, após uns goles de água, voltou à praça. No entanto, as queixas não permitiram que a lide se alongasse e a pega realizou-se mais precocemente do que seria natural. De agradecer a opinião do amigo Belmonte, ilustre bandarilheiro que ajudou na escolha dos terrenos para colocar o touro. Ventura, rapaz com uma alopécia preocupante para a idade, eventualmente numa tentativa de personificar a lenda que “é dos carecas que elas gostam mais”, não teve receio de levantar os (poucos) pêlos para o touro! Todos sabemos que estas situações provocam alguma ansiedade mas o cabo soube transmitir a serenidade necessária para que tudo decorresse dentro da normalidade.

Imponente o João, o touro a fugir ao grupo, as bancadas na expectativa, a respiração contida... Excelente o Mendes e todos os restantes ajudas, pega consumada junto às tábuas, com o Ventura com um braço de fora já a agradecer os aplausos!

Uma banhoca à cão na praça de touros, à antiga, a fazer lembrar Abiúl, uma bucha rápida e ala que se faz tarde para cima porque a praia e as namoradas estavam à espera!

Obrigado ao Zé Maria e a todos os elementos do grupo pela felicidade de partilhar aqueles momentos convosco!

Parabéns a todos e viva o Aposento da Moita!!
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