quarta-feira, 8 de maio de 2019

Crónica de Almeirim...por Martim Afonso Carvalho

Almeirim! Terra onde o Aposento da Moita tem tantos toiros pegados e tanta história escrita. Era a primeira corrida da temporada, a primeira corrida do Tato como cabo, reinauguração da praça de Almeirim, bancadas cheias, um cartel de primeira linha, e partilhávamos a teia com o único grupo centenário em Portugal. Não posso dizer que levávamos o mundo às costas, mas pelo menos uma boa remessa de pedras para se pôr na sopa da pedra do jantar a seguir, isso de certeza.

Nesta tarde tínhamos para pegar dois toiros de Vale Sorraia, rematados e bem apresentados, e um novilho de David R.Telles, linha antiga. A nova Arena d'Almeirim tinha um ar pouco castiço no exterior, mas estava bem arranjada por dentro, com a lotação quase esgotada e um sol quente de Maio para apimentar a festa. Na trincheira ao nosso lado, tínhamos os quatro cabos mais velhos do grupo para aconselhar, algo que não me lembro de ter visto na minha carreira como forcado. Tudo pronto para a festa dos toiros.

Para começar calhou-nos em sorteio o maior toiro da tarde, 585kg com pata e bravura que prenunciavam uma pega séria. O novo cabo escolheu o grupo, agarrou no barrete e chamou a si a responsabilidade de o pegar. Sem lesões ou outras baixas, o melhor do grupo estava ali. O Aposento da Moita era aquilo. Se corresse bem, era aquilo. Se corresse mal, era aquilo também... Correu bem. O Tato foi buscar o toiro um pouco mais acima do que se previa, teve um momento de reunião impecável, o grupo esteve firme a ajudar, e o toiro foi pegado à primeira tentativa, como é costume quando as coisas são bem feitas.

O segundo toiro da tarde tinha 555kg, mas parecia ser menos áspero e fazia prever uma pega mais em conta do que a anterior. Não obstante, tínhamos imperativamente de estar por cima e por isso pouco se inventou. Chamado a agarrar no barrete foi o Salvador Pinto Coelho, forcado já com vários anos de grupo mas que veio de uma lesão que o afastou dos "relvados" por mais de um ano. Vinha com aquele incómodo no coração que toda a gente tem quando volta de uma lesão, mas que uns mostram mais do que outros, e o Salvador mostrou-o na primeira tentativa. Levou uma sapatada, acordou, e na segunda tentativa fez aquilo que sempre soube fazer, com o grupo novamente a ajudar bem, e o toiro foi pegado.

O último da tarde era um novilho com 400kg, toureado pelo António R. Telles, filho. Noutra corrida isto seria oportunidade para uma estreia, mas como o grupo queria deixar um cunho de confiança o cabo escolheu o João Gomes (Verruga) para pegar que, já começando a ter alguma experiência, é sem dúvida uma das apostas para esta época. Sereno, bonito e eficaz, fez aquilo que lhe era pedido, e o novilho foi pegado à primeira.

Não podia deixar de dar uma palavra de apreço ao Luís Fera, velha glória do Aposento da Moita, que se ofereceu para se voltar a fardar esta época com o grupo, quando sentiu que podia ser uma mais valia.

Pelo Aposento da Moita, vai a cima, vai a baixo, vai ao centro e bota a baixo.

Martim Afonso Carvalho

Fotografias: Sofia Almeida

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