quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Crónica da corrida no Campo Pequeno...por Luís Fera

No passado dia 05 de Setembro de 2019, o Aposento da Moita apresentou-se na Catedral do Toureio em Portugal, a prestigiosa praça de toiros do Campo Pequeno em Lisboa, tal como é tradição em todas as temporadas, ano após ano, de forma justa e por mérito próprio face à entrega, dedicação, competência, brio, honra e dignidade com que tem representado a figura do Forcado Amador em Portugal e além-fronteiras, ao longo de 44 anos de história.
Foi assim possível ao Aposento da Moita contabilizar mais uma corrida de toiros no calendário da presente temporada, a honrar os pergaminhos de uma jaqueta com o peso histórico de 44 anos de devoção, entrega e dedicação dos muitos forcados que envergaram esta jaqueta e elevaram o nome da família Aposento da Moita ao mais alto nível da tauromaquia mundial.
Os aficionados em regra conhecedores e exigentes, disseram presente e deslocaram-se ao Campo Pequeno resultando em praça praticamente cheia, para assistir a um espectáculo com um cartel de figuras importantes no panorama taurino, composto pelos cavaleiros António Ribeiro Telles, Pablo Hermoso de Mendoza e seu filho Guillermo Hermoso de Mendoza que fazia a sua estreia no Campo Pequeno e a confirmação da alternativa, tendo sido lidado um curro de toiros bem apresentado da ganadaria Passanha, ficando as pegas incumbidas aos dois valorosos grupos de forcados dos amadores de Alcochete e do Aposento da Moita.
De uma forma geral, com os toiros a cumprirem em apresentação e alguma bravura, com entrega e bom desempenho de todos os intervenientes, proporcionou-se um espectáculo agradável com razoável emoção que deixou o público satisfeito por ter assistido a uma boa noite de toiros, proporcionando um excelente ambiente no decorrer da corrida e sobretudo após a corrida em toda a zona social envolvente à praça de toiros.
No que diz respeito à prestação em concreto do Aposento da Moita, concretizaram-se três pegas de muito bom nível, sendo uma à 2ª tentativa e duas à 1ª tentativa, não tendo sido um desempenho perfeito, foi uma prestação muito competente, digna e honrosa a valorizar a tauromaquia e a dimensão histórica do Aposento da Moita.
Para a cara do 1º toiro do Aposento da Moita (2º toiro da corrida) foi o Cabo Leonardo Mathias “Tato”, com um enorme gesto de abnegação e a dar o exemplo a todo o grupo, ao decidir abrir praça para o Aposento da Moita e escolher pegar o maior toiro da corrida com 614 Kg.
O “Tato” executou de forma muitíssimo boa todos os diferentes tempos da pega de caras (citar, carregar, recuar, reunir, viajar), mesmo com o contratempo de ter sido o toiro a ter a iniciativa de iniciar a investida para o forcado, o “Tato” teve os reflexos e rapidez de carregar imediatamente e bem o toiro, impedindo o surgimento de constrangimentos resultantes desse mesmo tempo/fase da pega, demonstrando que estava bem vivo, desperto e com ganas à frente do toiro.
Com a forma correta em termos técnicos e artísticos com que o “Tato” esteve à frente do toiro e com a forma coesa e competente com que o grupo ajudou, resultou uma brilhante pega de toiros que cativou o público e recebeu uma merecida e entusiasmante ovação.
Para a cara do 2º toiro para o Aposento da Moita, foi escolhido o forcado João Gomes “Verruga”, que concretizou a pega ao 2º intento. Na 1ª tentativa o João realizou um cite calmo e sereno a mostrar-se bem ao toiro, mediu bem as distâncias dando vantagens ao toiro e carregou de largo como deve ser, recuou na medida certa e realizou uma boa reunião ficando bem acoplado na cara do toiro, no entanto acabou por ser despejado já cá atrás no terreno dos ajudas, num derrote do toiro para baixo e a tirar a cara.
Na 2ª tentativa o João Gomes esteve novamente correto em frente ao toiro, já teve de entrar mais nos terrenos para o fazer sair, mas mandou na investida, esteve tecnicamente bem a recuar e sair daqueles terrenos e efetivou uma boa pega em que o toiro fugiu um pouco ao grupo e se destaca uma excelente 3ª ajuda do Bernardo Ortigão “Tigas”, que com uma excelente movimentação a antecipar a direcção tomada pelo toiro e a fechar-se muito bem com o forcado da cara no toiro. Bem Tigas!
Para a cara do 3º e último toiro que coube em sorte ao Aposento da Moita, foi escolhido o Martim Cosme Lopes, que é um forcado com alguma experiência e que tem estado bem e com bastante eficiência na cara dos toiros.
O Martim inicia bem o cite a dar distâncias, todavia, o toiro inicia precocemente a investida de muito largo, mas a trote, sendo que começou a abrandar o trote dando um sinal que podia parar possibilitando ao Martim continuar o cite, encurtar distâncias e mandar na investida, motivo que levou o Martim a ficar parado na expectativa de o toiro parar também.
No entanto, o toiro começou a abrandar a trote e depois voltou a acelerar novamente fazendo com que o carregar já fosse efectuado com o toiro muito em cima do grupo, mas de forma muito correta também a recuar e a reunir consumando com sucesso uma boa pega bem fechada e ajudada pelo grupo, apesar da mesma ter perdido o brilho da falta de cite e da curta viagem, mas em meu entender sem culpa do Martim, mas fruto das circunstâncias atípicas da investida do próprio toiro.
De realçar também as excelentes prestações do Martim Afonso com bastante qualidade nas 3 primeiras ajudas que deu.
Uma nota de grande apreço e amizade para o Grupo de forcados amadores de Alcochete, que partilhou praça com o Aposento da Moita e que também teve uma prestação e postura em praça muito corretas, a honrar e dignificar a festa de toiros em geral e a figura do forcado amador em particular, concretizando uma pega ao 1º intento por António José Cardoso e duas pegas à 2ª tentativa pelos forcados Diogo Timóteo e Manuel Pinto.
Não posso deixar de destacar com capital relevância um dos momentos mais valorosos e emblemáticos desta bonita noite de toiros, a nobreza da atitude do Cabo Leonardo Mathias ao brindar a sua pega ao Grande Homem e Carismático Forcado Nuno Carvalho “Mâta”.
Indubitavelmente um brinde repleto de emoções que sensibilizou todo o público presente, culminando com uma enorme ovação de dimensão ímpar, a representar um conjunto de valores éticos e morais cultivados de forma única no “Mundo dos Toiros”, tais como a Generosidade e o apreço inesquecível pela entrega e dedicação de todos aqueles que tudo deram e dão pelas nossas tradições e cultura identitária nacional do nosso Enorme Portugal, como foi e continua a ser o exemplo do “Mâta” de forma tão abnegada, altruísta e autêntica, até como exemplo mais recente, a brilhante e importantíssima palestra de coaching que o “Mâta deu no Campo Pequeno ao Aposento da Moita na véspera da própria corrida aqui descrita.
Parabéns ao “Tato” pelo gesto e ao “Mâta” pelo Exemplo que é para todos!
The last but not the least, não posso deixar de fazer uma referência ao extraordinário espírito que sempre caracterizou a família do Aposento da Moita e que em muito contribui para o sucesso no desempenho do grupo em praça e que atualmente todos continuam a promover e estimular com juventude e irreverência mas muito respeito pelos valores, identidade e história desta nobre instituição.
Agradeço o estimável convite para a realização da crónica da corrida no Campo Pequeno, sendo esta uma praça revestida de capital relevância na tauromaquia mundial em geral e no percurso tauromáquico do Aposento da Moita em particular.
Pelo Aposento da Moita VAI ACIMA,
MAIS ACIMA
Bota Abaixo
Luís Fera