"Meu caro João “Bão”, desde já
gostaria de te agradecer o convite para tentar descrever de forma singela aquilo
que se passou na noite de 17 de Setembro, quinta-feira, na praça de toiros da
nossa terra. No entanto, deixa que te diga que aquilo que irei escrever não
obedecerá a especiais critérios tauromáquicos, mas tão só à visão de alguém
que, não tendo sido forcado sénior do grupo, sempre o sentiu de forma muito
particular.
Portanto, aqui vai…
Antes de qualquer menção ao
que terá acontecido dentro da arena, penso que é da mais elementar justiça,
decorrido já quase meio século desde a sua fundação, que seja sublinhado o
enorme contributo que o Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita e, bem
assim de todos os elementos que o integraram desde então, tem dado na
divulgação do nome, da sua cultura e tradições da vila da Moita do Ribatejo, sendo
certo que não estarei a ludibriar ninguém se afirmar, como afirmo, que é o seu mais
importante baluarte!
Quanto à corrida propriamente
dita,
A tradicional “corrida de
quinta-feira” que integra a feira taurina das já tricentenárias (!) Festas em
Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, Santa Padroeira das gentes da Moita do
Ribatejo, encerrava em si mesma vários aliciantes, desde logo, a encerrona do
Grupo de Forcados do Aposento da Moita perante seis toiros da ganadaria Paulo
Caetano, no ano em que comemoram 40 anos desde a sua fundação.
Apesar dos dias que antecederam
a corrida não terem sido propriamente simpáticos em termos meteorológicos, mais
uma vez os aficionados responderam à chamada e quase encheram (3/4 quartos
fortes) a bela e histórica Praça de Toiros “Daniel do Nascimento”, mostrando,
assim, que apesar de muitas vezes maltratados, nasce-se e morre-se aficionado!
Os toiros enviados pelo Sr.
Paulo Caetano, todos eles com quatro anos de idade, cumpriram a papeleta,
mas em minha opinião terá faltado, para que as sortes resultassem mais emotivas,
um pouco mais de ímpeto no momento das reuniões.
Para a sua lide,
apresentaram-se os ginetes Paulo Caetano, Diego Ventura e João Moura Caetano,
cujas atuações serão por certo objeto de critica mais avalizada noutros sites
da especialidade, no entanto, destaco a lide que foi realizada ao primeiro
toiro da corrida pelo maestro Paulo Caetano, uma vez que, apesar das
dificuldades que o mesmo apresentou, conseguiu cumprir a preceito a sua função.
Agora, vamos ao que interessa,
ou seja a prestação da rapaziada liderada pelo José Pedro,
Para executar a pega ao
primeiro toiro, um negro bragado com 488 kg, apresentou-se o forcado Francisco Baltazar que, em noite de despedida, dedicou a pega
aos seus companheiros. È justo realçar a carreira digna, séria e competente deste
forcado que, em muitas situações, se viu perante os toiros mais duros das
corridas sem nunca virar a cara à luta, por certo deixará saudades.
Nesta noite, enfrentou um
toiro mal visto que precisava de um forcado experiente pela frente e teve-o. O
Baltazar andou decidido, entendeu a dificuldade que o toiro encerrava, tendo-o trazido
toureado à sua voz, para depois encher a cara ao toiro e se fechar à primeira tentativa, muito bem! O
Grupo ajudou bem, o primeiro ajuda entregou-se com decisão, merecendo
igualmente destaque a eficiente e atempada entrada das segundas ajudas.
No segundo da corrida (538 kg),
o cabo decidiu-se por um forcado que também
se despedia após mais de dez anos a envergar a jaqueta das ramagens da
Moita, o José Broega. Visivelmente
emocionado, dedicou a pega que viria a concretizar à primeira tentativa à sua mãe e irmã, aos seus companheiros e ao
céu, e fez tudo bem, desde o cite à reunião, à forma como se sacou e até como
se despediu, ida aos médios e nada mais.
Mais do que o forcado, e até
porque o conheço muito bem, gostaria de destacar aquilo que mais valorizo, o
carácter. O Zé foi sempre um rapaz equilibrado, tranquilo e respeitador. Muita
sorte e um abraço!
Para o terceiro (492 kg) foi
escolhido um forcado da terra, o Martim Oliveira,
que merecia e fez por merecer a oportunidade. Andou toureiro e pausado no cite,
carregou em boa altura, sendo que no momento da reunião pareceu-me que o toiro
fez um ligeiro estranho que terá dificultado o momento da reunião, no entanto o
Martim corrigiu e alapou-se ao toiro para não mais sair, tendo o grupo
correspondido novamente com eficiência. Mais um toiro pegado à primeira tentativa.
Depois do intervalo, e a abrir
a segunda parte da corrida, saltou para o ruedo um forcado consagrado, o Nuno Inácio. Perante um negro gravito
com 590 Kg, o forcado brindou ao público, andou como só ele sabe, perante um toiro
que o media e de investida pouco franca. O Nuno puxou dos galões e sacou-se corretamente,
tendo executada uma excelente pega à primeira
tentativa a um toiro que poderia ter complicado. Este forcado mostrou que
sabe e bem os terrenos que pisa e aquilo que os toiros precisam para que a
sorte saia a preceito.
Para o quinto toiro, o cabo
optou por um forcado que normalmente ajuda mas sempre que é chamado para outras
funções, cumpre e bem! O João Rodrigues (Jójó)
realizou uma belíssima pega à primeira
tentativa perante um toiro sério e reservado, tendo sido necessário o forcado
entrar em terrenos onde muitos dizem que a “boca seca”. E assim fez o João, que
teve aguentar até ao limite, mandou na investida e, sem nunca se descompor,
sacou-se com mestria. Em minha opinião, uma das pegas mais complicadas da
noite.
Para fechar a atuação, que até
aqui já corria sem mácula, e perante um sobrero com 603 kg (o mais pesado da corrida),
mais uma pega à primeira tentativa
executada por um forcado que também dispensa apresentação, o José Maria Bettencourt. De cite vistoso
e pose sóbria caminhou decidido, carregou em boa hora, e sacou-se com precisão,
tendo o toiro entrado com pata pelo grupo, que correspondeu à altura. É um
forcado dotado de uma técnica superior à média, e isso sente-se e transmite-se
a quem está na bancada.
Numa noite em que os forcados
da cara andaram muitíssimo bem, importa ainda realçar a atuação dos ajudas,
simplesmente impecável!
Em jeito de conclusão, diria
que em noite de emoções, vingou a atuação do Grupo de Forcados Amadores do
Aposento da Moita que, se não estou em erro, terá pegado pela primeira vez na
sua praça seis toiros ao primeiro intento.
Um abraço
J. Camacho"
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